Essa semana passei por uma enorme saia justa. Uma colega, com a qual trabalho há anos e por quem nutro um profundo respeito e admiração, me perguntou “Cadê o chefe?”. Eu, como uma bandida do velho oeste disparei: “Que chefe?”. Para minha sorte alguém entrou na sala milésimos de segundos depois se gabando da performance do seu time e a conversa mudou de rumo.
Durante a sociedade industrial, a organização das pessoas nas instituições foi baseada em uma estrutura verticalizada onde quem estava “em cima” (chefe) tinha poder sobre aquele que “estava embaixo” (subordinado). Existe, inclusive, uma frase emblemática que ilustra muito bem essa estrutura: “manda quem pode; obedece quem tem juízo”.
Alguém poderia contestar o uso do verbo no passado e afirmar que ainda hoje é assim. Concordo: é impossível imaginar que uma cultura organizacional construída ao longo de séculos e que está no inconsciente das relações pode mudar no estalar dos dedos. Mesmo porque as relações, sejam elas quais forem, se estabelecem enquanto as partes se beneficiam!
Isso significa dizer que na relação chefe/subordinado, o primeiro pode sentir-se superior, temido, aceito, desejado, o sabe-tudo, o protetor ou o guia iluminado. Em contrapartida, o segundo pode se comporta como servo fiel, frágil, inferior, inocente, delicado (e, por isso, pode-se esperar o básico e alguma bajulação). Tipo assim... “eu finjo que você é e você finge que acredita”.
Essa percepção tirana ou romântica das relações entre os membros de uma equipe de trabalho mostra o grau de amadurecimento pessoal no qual os profissionais se encontram e é uma maneira sutil de transferir responsabilidade. Por que é preciso ser temido ou desejado? Por que é preciso ser frágil ou submisso? Se alguém é superior ou guia iluminado, dá as ordens; se é servo fiel ou inocente as cumpri. Quanta dependência!
Quem precisa de chefe? Quem precisa de subordinado? Por que essa relação ainda existe? Todo profissional tem que ser líder de si mesmo. Liderança não é sinônimo de cargo. É, antes de tudo, um compromisso com o autoconhecimento.
Ou, como já disse o velho Sócrates: Conhece-te a ti mesmo.
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