sexta-feira, 25 de maio de 2012

Formação Inicial em Educação Física e a Intervenção Profissional no Contexto da Gestão: comportar-se como um eterno aprendiz II

Intervenção Profissional em Educação Física no Contexto da Gestão

Poderíamos afirmar que até a década de 1980 a intervenção típica do profissional de Educação Física girava em torno do planejamento de atividades e do desenvolvimento de programas de Educação Física e Esporte no âmbito escolar e não escolar. Em outras palavras: guardadas as devidas exceções, o profissional de Educação Física respondia por planejar aulas ou treinamentos (ou seja, diagnosticar necessidades e possibilidades, definir objetivos, selecionar conteúdos, escolher estratégias e avaliar a aprendizagem e/ou rendimento).

Na exata medida em que as atividades da Educação Física e do Esporte tornam-se um negócio, notadamente ligado à indústria do entretenimento ou da saúde (e porque não dizer, da Educação) surge a necessidade de organizar, de otimizar, de aprimorar a venda ou o oferecimento destas atividades.

Em uma fase inicial, dada a urgência da nova realidade, os profissionais “com algum jeito para a gestão” assumiram a função aprendendo através da tentativa e erro e no dia-a-dia de trabalho. Com a velocidade das transformações e com a concorrência, fatores inerentes ao mundo dos negócios, tornou-se imperiosa a formação de quadros para realizar com eficiência e eficácia as tarefas de gestão. Entre elas, podemos nominar: gestão dos processos, gestão de pessoas, gestão financeira, gestão da marca, gestão do conhecimento, etc.

A gestão dos processos está relacionada com a articulação das etapas do negócio e a gestão financeira, com a receita e os gastos. A gestão da marca diz respeito à imagem que se quer ter sobre o negócio e qual o significado dela para os clientes. Essas tarefas, salvo melhor juízo, não são de exclusividade dos profissionais de Educação Física e podem ser realizadas por profissionais da Administração, da Contabilidade, do Marketing. No entanto, nos parece que é na gestão de pessoas e na gestão do conhecimento que o profissional de Educação Física tem um papel primordial a desempenhar e por uma razão muito simples: as “pessoas” são profissionais de Educação Física e o “conhecimento” produzido é sobre os serviços da área.

A gestão de pessoas envolve, entre outros aspectos, o recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento da equipe de trabalho. Mocsányi e Bastos (2005) reconhecem que, embora esses aspectos sejam fundamentais para que os serviços sejam realizados com qualidade e, claro, para a sustentabilidade do negócio, as instituições que prestam serviços na área não possuem um profissional de Educação Física, que seja o gestor, com competência para realizar essas tarefas.

Outro aspecto importante relacionado com a gestão de pessoas é aquele conhecido como gestão da carreira. Sobre esse aspecto, Verenguer (2010) advoga que o profissional deve estabelecer com a empresa uma relação de parceria na qual ele define metas de aprimoramento profissional e a empresa proporciona experiência e oportunidades para esse aprimoramento.

A gestão do conhecimento está relacionada com os aspectos de inovação. Assim, considerando que, de tempos em tempos, é preciso criar novos serviços e produtos, é preciso criar um ambiente no qual os profissionais de Educação Física de uma instituição troquem ideias sobre seu trabalho e sobre o que pode ser criado (VERENGUER, 2011). Cabe ao gestor, profissional de Educação Física, a criação deste ambiente. Naturalmente, ainda que os cursos de graduação em Educação Física contemplem, em suas matrizes curriculares, disciplinas que abordem conteúdos relacionados à gestão, é inegável que as mesmas não podem aprofundá-los e a formação continuada, seja em programas de pós-graduação lato-sensu ou strictu-sensu ou em cursos livres, se torna condição necessária.

No entanto, Bastos et al. (2005, p. 20) acreditam que dadas as atuais e futuras oportunidades evidencia-se:

a necessidade de aperfeiçoamento das disciplinas de formação na área desde o curso de graduação em Educação Física e Esporte. Revela-se a necessidade de apresentar ao formando uma real possibilidade de atuação na área, direcionar os conteúdos e práticas das disciplinas para prepará-lo para se inserir neste mercado.

Acreditamos, como não poderia deixar de ser, que o aperfeiçoamento dos conteúdos e das disciplinas que tratam dos assuntos relativos à gestão em Educação Física seja crucial para criar um ambiente estimulante e mobilizador e que venha, então, inspirar os graduandos a se dedicarem a essa função. Mas, considerando a formação inicial, podemos pensar estrategicamente e tornar todo o período da graduação um espaço para o desenvolvimento das competências próprias para a gestão em Educação Física.


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Formação Inicial em Educação Física e a Intervenção Profissional no contexto da gestão: comportar-se como um eterno aprendiz I (*)

Introdução

Considerando a diversidade dos subtemas que compõem a temática sobre formação inicial e intervenção profissional em Educação Física, nos encontramos diante de um desafio que, até pouco tempo atrás, tinha pouco destaque e, a não ser em colóquios específicos, não correspondia às demandas acadêmicas. A proposta de discutir a temática no contexto da gestão é importante na exata medida em que começamos a reconhecer a complexidade da área.
A mudança neste quadro reflete a mudança do próprio mundo do trabalho no qual os profissionais estão inseridos e, por essa razão, são estimulados a ampliar suas competências para além do que, tradicionalmente, se considerava ser a intervenção típica do profissional de Educação Física.

É importante registrar, ainda, que o subtema Educação Física e Intervenção Profissional no Contexto da Gestão possui um respaldo acadêmico, por se caracterizar como uma área de estudo que responde pela produção de conhecimento e pela formação profissional (BASTOS, 2003). Outrossim, não podemos ignorar que a regulamentação da profissão, datada de 1998, acelera o processo de discussão sobre a abrangência da intervenção, sistematizando e regulando, inclusive, a especificidade da gestão. O resultado deste processo dá origem à Resolução CONFEF nº 046/2002 (CONFEF, 2002) que, ao dispor sobre a intervenção do profissional de Educação Física e definir os campos de atuação, esclarece os objetivos no que tange à gestão:

Diagnosticar, identificar, planejar, organizar, supervisionar, coordenar, executar, dirigir, assessorar, dinamizar, programar, ministrar, desenvolver, prescrever, prestar consultoria, orientar, avaliar e aplicar métodos e técnicas de avaliação na organização, administração e/ou gerenciamento de instituições, entidades, órgãos e pessoas jurídicas cujas atividades fins sejam atividades físicas e/ou desportivas (Confef, 2002, p.1).

 Conscientes dos vários caminhos que podem ser trilhados visando a discussão do subtema Formação Inicial e Intervenção Profissional no Contexto da Gestão, optamos por discuti-lo a partir da seguinte pergunta norteadora: como a formação inicial pode desenvolver e/ou aprimorar as competências próprias para a gestão em Educação Física?

Por fim, na esperança de poder responder à pergunta definimos os objetivos que se seguem: a) discutir a intervenção profissional em Educação Física no contexto da gestão; e b) caracterizar como a formação inicial pode contribuir para desenvolver competências para a gestão.

(*) Capítulo originalmente publicado em livro conforme a seguinte referência:

VERENGUER, R.C.G. Formação Inicial em Educação Física e a Intervenção Profissional no contexto da gestão: comportar-se como um eterno aprendiz. In: NASCIMENTO, J.V. & FARIAS, G.O. (Orgs.) Construção da Identidade Profissional em Educação Física. Florianópolis, Ed. da UDESC, 2012.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Estágio em Educação Física: visão e comportamento estratégico

Para terminar o semestre letivo e concluir a última unidade da disciplina, elegi uma temática que sempre traz discussões acaloradas entre os meus alunos: qual é o papel dos estágios na formação de um profissional? Quais são as expectativas dos graduandos? Qual é a realidade do mundo do trabalho? O que dizem os especialistas?

Metodologicamente a temática é abordada a partir de algumas tarefas que são desenvolvidas para que os graduandos possam, ativamente, participar da construção do conhecimento e, então, possam ampliar a consciência e a criticidade.

É curioso observar como as expectativas relatadas pelos graduandos e as teses defendidas pelos especialistas são semelhantes, pois acreditam que o estágio é uma oportunidade para conhecer o mundo do trabalho, ampliar as competências profissionais, fazer contatos e ser conhecido, testar e compartilhar conhecimentos, conviver com profissionais experientes.

Em última instância: o estágio é visto como um processo de aprendizado que pode ser enriquecedor na medida em que completa a formação universitária e oportuniza a entrada no mundo do trabalho.

No entanto, ainda hoje vemos que o estágio é mal conduzido pelos graduandos e pelas instituições que recebem os estagiários. Guardadas as honrosas exceções, como aquelas instituições que já perceberam que o estágio pode ser uma oportunidade de selecionar os melhores profissionais e os graduandos que têem uma visão estratégica e selecionam as melhores oportunidades, a maioria das instituições e dos graduandos estabelecem uma relação de interesse duvidosa: para as instituições o estágio tem a vantagem de recrutar mão de obra barata e para os graduandos a chance de se livrar das horas obrigatórias.

Em outro post defendi que ao ter os melhores profissionais ampliam-se as chances de se fidelizar clientes. Agora vou defender outra ideia: o graduando precisa ter uma visão e um comportamento estratégico ao escolher aonde estagiar. Escolher qualquer lugar é perda de tempo.