sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Gestão da Carreira em Educação Física: responsabilidade profissional e institucional I

Na semana passada tive o privilégio de participar, como palestrante, do XV Workshop das Escolas de Esporte promovido pelo Grupo de Coordenadores das Escolas de Esporte de São Paulo. Esse evento congrega profissionais e estagiários de Educação Física dos clubes e das escolas de esporte paulistanas, além de estudantes.

Consciente da responsabilidade, parti do pressuposto de que é exageradamente pretensioso julgar que se pode dizer a um adulto o que ele deve fazer da sua vida, embora seja razoavelmente maduro acreditar que cada um é responsável pelas suas escolhas. Desta forma, pareceu-me honesto compartilhar com colegas aquilo que acredito e como conduzo a minha vida profissional.

Fazendo uma radiografia singela do mundo de trabalho em Educação Física, podemos observar que existem variáveis que estão dando a ele contornos próprios: impacto da tecnologia, aumento do número de prestadores de serviços (players), maior competição pelos clientes e diversidade das opções de lazer.

Ainda que esse cenário não seja novo e venha impactando, há algum tempo, a maneira como nos relacionamos com o mercado e com os clientes, nós continuamos sofrendo com ele devido ao modo como nos posicionamos frente à nossa carreira. Isso significa que, necessária e urgentemente, precisamos promover uma mudança no nosso comportamento e, isso só será possível, se a nossa forma de pensar mudar.

Mudança de mentalidade. “É mais fácil ganhar a Maratona de São Paulo”, comentou um colega. Pois é, também exige dedicação, perseverança e treinamento. Mas, sabemos que, a despeito do clichê, nada que seja valioso é fácil de conquistar.

É hora de abandonarmos a lógica de empregado/empregador e estabelecer com a instituição uma parceira de negócio. Para isso vale perguntar:
  • É estratégico para a minha marca estar associada à marca da instituição na qual trabalho?
  • A marca da instituição na qual trabalho agrega valor à minha marca?
  • É estratégico para a marca da instituição na qual trabalho estar associada à minha marca?
  • A minha marca agrega valor à marca da instituição na qual trabalho?

Ps: os slides estão publicados.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Empregabilidade em Educação Física: as relações não duram para sempre

Nesta semana, durante uma aula cujo assunto versava sobre as relações de trabalho em Educação Física, os graduandos mostraram-me como estão conscientes de que, diferente de seus pais ou avós, que trabalharam por décadas na mesma instituição, eles provavelmente terão outra história profissional para contar aos seus filhos.

Considerando que todas as relações humanas são delicadas e frágeis, para mantê-las é preciso cuidar para que os envolvidos se sintam mutuamente atraídos. Na vida profissional não é diferente, pois a relação entre o profissional e a instituição na qual ele trabalha é uma relação de troca e, enquanto as partes precisarem uma da outra, o contrato continua.

Uma vez desfeitos os laços de atração e de interesse mútuo é hora de se lançar às novas relações e estabelecer novos contratos. Mas para que isso aconteça é preciso conhecer as demandas do outro e ter algo a oferecer, e isso só é possível se o profissional cuidar da sua empregabilidade.

Embora não haja uma definição única para o termo, poderíamos caracterizar empregabilidade como a capacidade que um profissional tem em se manter atraente para o mercado e obter trabalho e gerar renda. Neste caso, “manter-se atraente” significa possuir conhecimento e ser capaz e estar disposto a aprender rápido e constantemente.

Deste modo, é saudável cuidar da empregabilidade enquanto se está empregado. Investir na ampliação do conhecimento técnico e cultural, estar atento às demandas e às oportunidades do mutável mundo do trabalho, ter clareza de que a carreira é responsabilidade exclusiva do profissional, gostar do que faz e fazer bem feito, manter azeitada a rede de contatos e desenvolver o gosto pelo novo são comportamentos que podem nos ajudar a permanecer no jogo corporativo.

Na vida profissional não há garantias. O imprevisível é um deus que ronda nossos dias e, pensando positivamente, pode nos trazer deliciosas surpresas e nos levar por outros caminhos se estivermos diariamente semeando o futuro.

Ps: meu irmão, que faz aniversário hoje, é médico veterinário e por muito anos realizou as tarefas típicas da profissão. Atualmente, ele trabalha em uma empresa que desenvolve projetos para construção de hidrelétricas. Sua função: avaliar o impacto ambiental destas construções na fauna da região e planejar o manejo dos animais para outro habitat.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Esporte: mil e uma utilidades

(artigo originalmente publicado no Jornal da Universidade São Judas Tadeu, em 1993)

Nas últimas décadas o esporte adquiriu um espaço importante no cotidiano das pessoas e, por suas características, tornou-se um fenômeno de comunicação.

É curioso observar como, embriagado pela atmosfera esportiva, o comentarista de TV procura elevar o grau de despojamento e intimidade com seus telespectadores. Sem o menor constrangimento pronuncia um sonoro “alô, galera”, enquanto seus colegas discretamente entoam um “boa noite”. Esta intimidade (desejada) parece refletir a expectativa de se criar certa dose de cumplicidade, familiaridade em torno das pessoas, entendendo-se, então, porque se fala em “nação corintiana”.

Partindo do ponto de vista lingüístico, o esporte empresta à comunicação diária expressões do seu universo que são compreendidas mesmo por aqueles que não estão envolvidos pelo cotidiano esportivo.

Não raro, em uma discussão, é possível ouvir afirmações tais como “xi, embolou o meio de campo” ou “fulano só dá bola fora”. Até mesmo no âmbito sentimental afirma-se: “ele tanto fez que tomou cartão vermelho da namorada”.

O esporte sempre esteve na moda. “Esporte fino” recomenda o convite. E também quando se trata de assuntos reais: “comentar o romance entre o príncipe Charles e sua amiga tornou-se o esporte principal dos ingleses”, esclarece o correspondente internacional.

O esporte empresta ainda sua imagem para decorar um produto. Ao acreditar no binômio esporte/saúde, esporte/vigor ou esporte/beleza vende-se iorgute, chocolate, refrigerante e até cigarro! Por uma bagatela é possível comprar um carro: “veloz, arrojado, moderno. Enfim, um carro esportivo”.

Esta fusão do esporte com a publicidade é tão clara e direta ao pode de se poder confundir um piloto de Fórmula 1 com um outdoor ambulante.

Mas é do ponto de vista psicossocial que todo o universo simbólico do esporte se evidencia na totalidade. A humanidade precisa (precisa?) de mitos e ídolos e a cada quatro anos elegem-se os heróis do Olimpo. A vitória de um time é a demonstração conclusiva da superioridade de uma raça (pelo menos foi assim que pensou Hitler e seus amigos).

A quebra de um recorde é o clímax; a bandeira no topo e o hino nacional tocando levam todos às lágrimas. Cristaliza-se o fenômeno da transferência de identidade: a realização através do outro.
Com seu inegável poder de sedução, o esporte não passa despercebido pela política e torna-se um instrumento ideológico usando independentemente do regime. Tanto a democracia quanto a ditadura conhecem esse poder. Com efeito, um candidato a qualquer cargo público precisa aparecer vestido coma camisa do “seu” clube. No corre-corre por uma vaga no legislativo, os jogadores e dirigentes se valem da imagem de vencedores para conquistar o voto. Nas propostas só dogmas: “fazendo esporte a criança estará longe das dorgas”; “o esporte ensina a perder e a ganhar”.

Não obstante, aqueles que ocupam cargos no executivo sempre arrumam um jeito de posar com atletas ou, o que é pior, de atleta.

Cumplicidade, despojamento, saúde, elegância, vigor, superioridade, dinamismo, autopromoção são algumas das referências próprias do esporte. Eficiente veículo de mensagem; eficaz garoto-propaganda.

A abrangência do significado da palavra “esporte” é tal que se estende desde o caminhar no parque até o concentrar-se no centro de treinamento à espera da final. Esta abrangência é, sem dúvida alguma, abusiva.

Cometer exageros sobre o conceito do termo “esporte” não é privilégio dos leitos. Os próprios profissionais da área não identificam com clareza os limites deste conceito. Os “especialistas” ainda insistem em chamar um corredor de final de semana de praticante de esporte.

É preciso, definitivamente, tratar o esporte com mais rigor. Não se pode mais, pela própria complexidade do fenômeno, confundi-lo com atividade motora. Correr na praia, pedalar no parque, jogar bola ou nadar no verão não caracteriza a prática de esporte. o aprendizado e a prática de tarefas motoras não podem ser confundidas com o aprendizado e a prática esportiva pois, possuem finalidades e sujeitos diferentes.

Classificar o esporte em três categorias – esporte-performance, esporte-educação e esporte- participação – é uma balela. A performance e o rendimento são a própria essência (e definição) do esporte; não existe esporte sem comparação e valorização do resultado.

Nada por si só é educativo. Enquanto instituição, o esporte, assim como a igreja, a família, a escola e a televisão transmitem valores e juízos. O esporte ensina tanto a ser leal com o adversário como a ser agressivo com o juiz; ensina tanto a respeitar regras como burlá-las.

“Esporte é para todos” gritam os desavisados. Mera ilusão! O esporte é para poucos ou para aqueles que reúnem características anatômicas, fisiológicas, biomecânicas e psicológicas muito bem definidas. Oscares, Hortências, Rais fazem parte de um grupo muito seleto.

Com suas características contemporâneas, ao esporte é imprescindível unir os conhecimentos da ciência. Isto significa constituir uma equipe multidisciplinar de nutricionistas, psicólogos, fisiologistas, para que se possa chegar ao que interessa: a vitória.

Isto significa dizer, portanto, que o universo esportivo PE altamente planejado e sofisticado; à maioria dos mortais resta o encantamento.

Bem, se o esporte exige todas as características acima, quem são os anônimos corredores e ciclistas dos parques? Quem são os ilustres desconhecidos caminhantes matinais?

Certamente são pessoas que têm, incorporados aos seus valores, a prática da atividade motora regular. Alheias à ditadura dos shorts agarrado, do tênis importado e da camiseta fosforescente, essas pessoas possuem conhecimento sobre a importância desta atividade, realizando-a sistematicamente e, apesar disto, não podem ser confundidas com atletas.

Isto posto, poder-se-ia dizer, sim, que essas pessoas têm uma atitude positiva frente à atividades motora, ou seja, são pessoas “motoramente educadas”.

Dentro desta perspectiva e em torno da prática da atividade motora, existem situações diferenciadas. De um lado, o esporte caracterizado pela performance, pelo treinamento, pela vitória, pelo biótipo adequado etc. De outro, as pessoas que procuram com a atividade motora regular o seu bem-estar.

Ps: Ontem, um aluno, pelo qual tenho um carinho especial, comentou: “Rita, a Bete solicitou a leitura de três artigos seus.” Fiquei lisonjeada por várias razões e, entre elas, por ter sido “a Bete” que solicitou. Este é um deles.

sábado, 7 de agosto de 2010

Como aproveitar o potencial da Web 2.0 e das mídias sociais nos negócios da Educação Física?

Depois das merecidas férias de julho, a primeira semana do semestre letivo é pautada pelo mesmo ritual: conhecer os calouros, rever os veteranos, apresentar as disciplinas e estabelecer o contrato pedagógico. Entre uma tarefa e outra aproveitamos para conversar sobre os episódios esportivos do mês, ou seja, o resultado da copa, a escalação e o novo técnico da seleção, os jogadores nas páginas policiais, as determinações da Ferrari para o Massa, a ultrapassada do Rubinho e, naturalmente, os comentários dos jogadores do Santos, via web.

Sobre esse episódio não faltaram opiniões e essas variaram dependendo do interlocutor. Ouvimos que foi imaturidade e/ou despreparo dos jogadores, falta de educação e/ou de berço, ingenuidade e/ou soberba, molecagem e/ou babaquice. Talvez seja tudo isso e mais um pouco, todavia, com certeza, em tempos de mídias sociais, o que se diz e o que se mostra adquiri uma visibilidade explosiva.

Ainda que tenha sido necessário confeccionar uma cartilha para orientar a conduta e o uso das ferramentas, o mundo corporativo, ao perceber que a Web 2.0 faz parte do cotidiano dos seus colaboradores e dos seus clientes, encontrou formas de lidar com elas e tirar proveito disto para o seu negócio.

O mesmo não acontece com as instituições ligadas à Educação Física e ao Esporte. As academias, clubes e associações que prestam serviços na área e, principalmente, os profissionais, ainda não se despertaram para as possibilidades e oportunidades do uso destas ferramentas para agregar valor aos seus serviços.

Imaginem o seguinte: em plena primeira rodada do Grand Prix de Voleibol Feminino, o técnico do time juvenil do clube X poderia publicar, no site deste clube, para todos os sócios e, também, para as suas atletas uma análise tática da vitória do Brasil contra o Japão, na manhã de hoje. E aí, talvez, quem sabe o clube poderia encontrar um fabricante de material esportivo disposto a patrocinar esse espaço e, logicamente, o autor dos conteúdos, que neste caso, é o profissional de Educação Física.

Que tal? Parece muito futurista?

ps: em 15 de maio publiquei um artigo relacionando o uso da Web 2.0 e a Educação Física escolar.