sexta-feira, 26 de março de 2010

Mundo do Trabalho em Educação Física: é preciso preparar empreendedores

Em meados da década de 1980, minha geração freqüentava a Universidade e acompanhou, sem saber direito o que estava acontecendo, os efeitos de um fenômeno que desorganizou muitas famílias: a reestruturação do mundo do trabalho. Nesta época, muitos pais e mães perderam seus empregos para a reengenharia.

Ao longo da estruturação do mundo do trabalho, sempre existiu o embate entre o capital e o trabalho, ou seja, entre aqueles que trabalhavam e aqueles que pagavam por esse trabalho. Por volta da década de 1950, sobretudo nos países do hemisfério norte, uma série de medidas permitiu que empregados e empregadores estabelecessem uma política menos conflituosa. Essa política, conhecida como Estado de Bem-estar Social (Welfare State) previa a todos os trabalhadores carteira assinada, 13º salário, férias remuneradas, FGTS, vale refeição, seguro saúde, aposentadoria.

A reestruturação do mundo do trabalho, iniciada na metade dos anos de 1970, nos países desenvolvidos e, dez anos depois nos outros países, abre um novo cenário nas relações: flexibilização dos contratos de trabalho, ou seja, perda dos direitos trabalhistas, terceirização, trabalho por projeto e precarização do emprego.

Se até a minha geração, os profissionais eram preparados para serem empregados de uma escola ou de um clube, hoje tal preparação é anacrônica e condenável. É preciso ter clareza que o mundo do trabalho mudou e a atitude empreendedora deve ser o foco de qualquer preparação profissional.

Há poucos estudos acadêmicos sobre o mundo do trabalho em Educação Física, mas podemos afirmar que se este novo cenário é incerto e inseguro para alguns, para outros é desafiador e mobilizador. No entanto, para ambos será exigido maior investimento na carreira e maior responsabilidade sobre suas decisões profissionais.

Em tempo: minha geração calcula o tempo para se aposentar; meus alunos elaboram planos de negócio e desenvolvem projetos de consultoria.

sábado, 20 de março de 2010

Professor: gestor de suas competências e de sua carreira

Nesta semana fui procurada por uma jornalista, responsável por uma revista educacional, para conceder uma entrevista cujo tema era Professor como gestor. Vejamos as principais ideias.

Poderíamos definir gestor usando o dicionário ou buscando algum livro sobre o assunto. Prefiro, neste momento, caracterizar gestor como aquele ou aquela profissional que define meta e estabelece objetivos para o seu trabalho e para sua carreira. É aquele ou aquela que, ao invés de classificar um episódio de problema, chama-o de oportunidade. O gestor ou a gestora são apaixonados pelo que fazem e são capazes de mobilizar pessoas em torno de uma tarefa.

Esse conceito se aplica à função docente, pois um professor ou uma professora são gestores de suas salas de aula. Definem metas e estabelecem objetivos de aprendizagem, mobilizam os alunos para realizarem as tarefas do cotidiano escolar. Enfrentam os episódios e tiram lições deles e são responsáveis por suas carreiras.

Infelizmente, esqueceram de avisar ao professor e à professora que, enquanto profissionais, eles são os responsáveis por suas carreiras. Delegar o planejamento da carreira ao superior imediato ou ao dono da escola é perigoso. E qualquer gestor ou gestora que não cobra dos membros de sua equipe o planejamento em suas respectivas carreiras é incompetente e não poderia estar neste lugar.

Mas nunca é tarde. Existem várias maneiras de planejar a carreira profissional, entre elas: definir suas metas, manter-se constantemente atualizado, envolver-se em projetos e cultivar sua rede de contato.

A escola, através de seus gestores, deve garantir as condições materiais e infraestrutura para que os professores e as professoras realizem seu trabalho e desenvolvam seus projetos. Costumo dizer que o gestor ou a gestora trabalham para a sua equipe de professores. Acolher e valorizar as iniciativas da equipe de professores é fundamental para criar um ambiente de trabalho prazeroso e inovador. Mas convenhamos: se um professor ou uma professora não aproveitam as oportunidades oferecidas devem ser substituídos.

O professor e a professora, como qualquer outro profissional, têm metas e objetivos para alcançar. Eles são responsáveis por isso. A coordenação pedagógica deve dar os meios para isso e avaliar o desempenho e os resultados. Deve aplaudir e comunicar o sucesso; oferecer oportunidades de aperfeiçoamento e aprimoramento para aqueles que estão dispostos a melhorar; e substituir aqueles que não se dispõem a alcançar os resultados.

Porque uma coisa é certa: fazer parte de uma equipe vitoriosa faz bem.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sociedade do Conhecimento e Preparação Profissional em Educação Física

Nos últimos meses tenho me dedicado a compreender, investigar e, sobretudo, a usar o Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) como complemento às aulas presenciais. Este Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) possui várias ferramentas e recursos com os quais é possível interagir com os diversos conteúdos da disciplina.

Através dos fóruns, do glossário, da wiki podemos construir conhecimentos colaborativamente e compartilhar mutuamente a aprendizagem. Com os vídeos do youtube e com podcasts podemos ilustrar e ampliar as discussões trazendo para a sala de aula outros olhares.

Atualmente, o acesso à informação e ao conhecimento está potencializado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e os docentes de modo geral e, em particular, os docentes universitários estão diante de um grande desafio: rever sua função e seu papel no processo ensino-aprendizagem. Aliás, para os graduandos o desafio é o mesmo.

Foi-se o tempo em que o docente era o detentor exclusivo do conhecimento e o graduando um mero ouvinte. Na Sociedade do Conhecimento e com as TIC’s, a relação entre docente-graduando deve primar pelo compromisso mútuo e pela troca de conhecimento. Deste modo, o comportamento passivo que ainda encontramos em vários graduandos dificilmente os levará a uma carreira vitoriosa. Eles precisam se tornar protagonistas de sua aprendizagem e de sua preparação profissional.

Tomar decisões, fazer escolhas, resolver problemas e enfrentar desafios fazem parte do cotidiano de qualquer profissional e será bem sucedido aquele que souber, com autonomia, buscar conhecimento e encontrar respostas (que não estão prontas). Para isso qualquer curso de graduação sério e de qualidade deve, diariamente, criar condições para que o graduando amplie sua competência de duvidar e selecionar informações.

Tornar-se profissional para o mundo do trabalho do século XXI é responsabilidade do graduando e ele não pode delegar a mais ninguém essa tarefa. Cabe ao docente universitário ser parceiro neste processo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Educação Física: é hora de pesquisar e divulgar o sucesso

A partir da década de 1980, a Educação Física no Brasil passou por um intenso processo de análise e crítica. A denominada “crise de identidade” demandou, sobretudo dos docentes universitários e dos pesquisadores, esforços no sentido de definir o objeto de estudo da área e qual seu foco de investigação científica. Por muitos e muitos anos, se duvidou que a pesquisa pudesse promover algum impacto na realidade da área.

Amadurecemos. Hoje não discutimos mais a relevância da pesquisa para melhorar a intervenção. A Educação Física, enquanto profissão academicamente fundamentada, pressupõe que seus membros tenham uma atitude investigativa sobre seu cotidiano profissional. Não raro, hoje, nos cursos de graduação, os universitários são incentivados a participarem de grupos de estudos e a desenvolverem projetos de pesquisa, inclusive com apoio das agências de fomento.

Já passamos da fase de procurar as razões para os problemas, as dificuldades e as mazelas da área. Agora é hora de investigar as experiências bem-sucedidas, as práticas pedagógicas inovadoras e os profissionais e professores talentosos. Enfim, precisamos ouvir as vozes e conhecer os profissionais e professores que estão transformando a Educação Física.

Curiosa e diferentemente de outras profissões, os profissionais e professores de Educação Física participam pouco de eventos científicos. Acreditam que esse espaço seja destinado exclusivamente aos pesquisadores-doutores ou aos alunos de pós-graduação. Isso é um grande equivoco e devemos criar outra cultura: precisamos registrar e sistematizar as práticas profissionais e submetê-las aos pares.

Afinal de contas, o sucesso precisa ser compartilhado.