No meio da semana, entre uma aula e outra, aproveitei o intervalo e fui lanchar. No restaurante da universidade, nostalgicamente, fiquei observando alunos discutindo, animadamente, sobre um seminário que estavam preparando. Com laptops, livros e anotações espalhados pela mesa, a discussão foi interrompida por uma colega que chega toda serelepe anunciando que havia sido selecionada para um estágio. Após a comemoração, alguém perguntou: “o que você espera dele?”. A garota não titubeou: “virar sócia!”.
Sob o aspecto legal, tanto o Ministério do Trabalho como o Conselho Federal de Educação Física estabeleceram um conjunto de leis que normatizaram as atividades de estágio. Mas, é sob o aspecto cultural que essa discussão fica mais saborosa, visto que temos que lidar com variáveis mais complexas: de um lado a ansiedade dos graduandos em entrar no mercado de trabalho e ganhar seu próprio dinheiro e do lado dos empregadores de usufruírem de mão de obra barata e, com o tempo, descartável.
Se uma revista de negócio quisesse saber quais são as melhores empresas de Educação Física para estagiar, como a descreveríamos? Com certeza a descrição seria a mesma das empresas de outros ramos: são aquelas que têm a) um ambiente propício para o aprendizado e o aprimoramento das competências profissionais, através do convívio com profissionais experientes e b) uma política de desenvolvimento que oportunize conhecer a rotina e o dia-a-dia da profissão, por meio de um revezamento nas diversas funções.
Entre a realidade e o ideal existe uma enorme distância preenchida pela visão anacrônica e míope dos responsáveis pelo processo de recrutamento e de seleção das empresas ligadas à Educação Física. Eles ainda não entenderam que retenção de clientes está, intimamente, relacionada com desenvolvimento e retenção de talentos. É simples: quanto melhores os profissionais, melhores os serviços e mais satisfeitos os clientes.
Sinceramente, acredito que precisamos dar um banho de profissionalismo na Educação Física e começar a exigir dos graduandos, dos estagiários e das empresas uma postura alinhada com o mundo dos negócios. Afirmar que a “área está crescendo” é muito pouco. Ela precisa amadurecer.
Ps: acabo de ler no jornal que as empresas estão usando redes sociais com plataformas próprias para selecionar candidatos a trainee. A Educação Física chega lá.