sexta-feira, 1 de junho de 2012

Formação Inicial em Educação Física e a Intervenção Profissional no Contexto da Gestão: comportar-se como um eterno aprendiz III


Formação Inicial em Educação Física para o contexto da gestão



Para efeito deste capítulo, podemos caracterizar a graduação como um conjunto de atividades acadêmicas, intencionalmente organizado ao longo de 3 ou 4 anos, que uma vez cumprido dará as condições iniciais para o exercício profissional. No âmbito da Universidade esse conjunto de atividades é conhecido como a tríade ensino-pesquisa-extensão.

Em que pese a singularidade dos projetos políticos pedagógicos de cada curso de graduação e respeitadas as normativas legais, podemos identificar como atividades de ensino o elenco de disciplinas (matriz curricular), os estágios supervisionados, as atividades complementares, as monitorias etc.

Da mesma forma, as atividades de pesquisa podem ser identificadas por aquelas desenvolvidas, por exemplo, em grupos de estudos, em projetos de iniciação científica e nos eventos científicos. Não obstante, as atividades de extensão são aquelas relacionadas aos projetos de extensão à comunidade, às atividades culturais e esportivas, entre outras.

Particularmente ao que se referem às disciplinas, essas possuem uma estrutura conhecida: os conteúdos que explicitam o referencial teórico, a metodologia que define como os conteúdos serão abordados e a avaliação que procura diagnosticar aquilo que foi aprendido. Por experiência e observação sabemos que as disciplinas dos cursos de graduação priorizam a dimensão conceitual e que metodologicamente, impera a aula expositiva.

Isto posto, segue uma certeza: a disciplina que aborda a temática sobre administração e/ou gestão no cursos de graduação em Educação Física não dá conta de desenvolver as competências próprias para o desenvolvimento desta função.

O que defendemos aqui está relacionado com uma concepção pedagógica segundo a qual a matriz curricular deve ser concebida a partir das dimensões dos conteúdos – dimensão conceitual, dimensão procedimental e dimensão atitudinal – e com a valorização das metodologias ativas de aprendizagem. Se considerarmos que a atividade de gestão está relacionada com diagnosticar cenários, selecionar informações, enfrentar desafios, resolver problemas e tomar decisões, o desenvolvimento e/ou aprimoramento destas competências só pode se dar em um ambiente estimulante e bem diferente da maioria das salas de aulas que conhecemos.

Em síntese, o que queremos advogar é que pensar a formação inicial para a intervenção no contexto da gestão é ter clareza de que não é no seio de uma disciplina que vamos encontrar as condições para o desenvolvimento inicial das competências necessárias para a função. No entanto, nem tudo está perdido e podemos considerar que existe uma saída se houver disponibilidade para a mudança. Mas, nesse caso, a mudança não se refere ao projeto pedagógico ou à matriz disciplinar e, sim, ao comportamento dos universitários.

Desta forma, aqui segue a segunda certeza: o desenvolvimento e/ou aprimoramento das competências para a gestão pode acontecer quando o universitário, de forma ativa e autônoma, aproveita e se envolve nas atividades da graduação. Ao se relacionar com pessoas, ao desenvolver processos, ao definir prazo e ao atingir as metas, o universitário estará sendo convidado a abandonar o papel de coadjuvante no processo de profissionalização.

Ainda que não seja nossa intenção esgotar o assunto, para efeito de exemplo, podemos considerar o Quadro 1 como referencia sobre a relação entre as competências exigidas para atuar na gestão e as experiências que o universitário pode aproveitar na graduação para desenvolvê-las ou aprimorá-las.



Quadro 1 - Relação entre competências para a gestão e experiências na formação inicial.

Competências para
Gestão em Educação Física e Esporte
Experiências na Formação Inicial
(quando...)


1.     Comunicação  (ideias, decisões)
* falamos em sala de aula
* apresentamos um seminário
* participamos de reuniões
* escrevemos trabalhos

2.     Liderança
 (pessoas)
* trabalhamos em grupo
* participamos de equipes esportivas ou grupos culturais
* assumimos desafios

3.     Negociação
 (prazos, entregas, ideias)
* ouvimos os colegas
* argumentamos com os outros
* consideramos ideias diferentes

4.     Planejamento
 (eventos, serviços)
* nos envolvemos na organização de eventos
* estagiamos em projetos de extensão

5.     Análise
(cenários, conjunturas)
* estudamos para qualquer disciplina
* conectamos conteúdos diferentes
* observamos o entorno
* pesquisamos um assunto
6.     Controle
(tempo, gastos)
* entregamos os trabalhos na data
* usamos os recursos de forma eficiente

7. Decisão
* atuamos para atingir metas acadêmicas
* escolhemos o que fazer da nossa carreira



Como podemos observar, desde os primeiros meses da formação inicial é possível desenvolver e ampliar competências para a gestão. E, ainda que, não tenhamos afinidade com a função de gestor ou gestora, a vida profissional poderá nos fazer esse convite e precisamos estar preparados. E só estará preparado aquele que adotar um comportamento de eterno aprendiz.

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