Formação Inicial em Educação Física para o
contexto da gestão
Para efeito deste capítulo, podemos
caracterizar a graduação como um conjunto de atividades acadêmicas,
intencionalmente organizado ao longo de 3 ou 4 anos, que uma vez cumprido dará
as condições iniciais para o exercício profissional. No âmbito da Universidade
esse conjunto de atividades é conhecido como a tríade ensino-pesquisa-extensão.
Em que pese a singularidade dos projetos
políticos pedagógicos de cada curso de graduação e respeitadas as normativas
legais, podemos identificar como atividades de ensino o elenco de disciplinas
(matriz curricular), os estágios supervisionados, as atividades complementares,
as monitorias etc.
Da mesma forma, as atividades de pesquisa
podem ser identificadas por aquelas desenvolvidas, por exemplo, em grupos de
estudos, em projetos de iniciação científica e nos eventos científicos. Não
obstante, as atividades de extensão são aquelas relacionadas aos projetos de
extensão à comunidade, às atividades culturais e esportivas, entre outras.
Particularmente ao que se referem às disciplinas,
essas possuem uma estrutura conhecida: os conteúdos que explicitam o
referencial teórico, a metodologia que define como os conteúdos serão abordados
e a avaliação que procura diagnosticar aquilo que foi aprendido. Por
experiência e observação sabemos que as disciplinas dos cursos de graduação
priorizam a dimensão conceitual e que metodologicamente, impera a aula
expositiva.
Isto posto, segue uma certeza: a disciplina
que aborda a temática sobre administração e/ou gestão no cursos de graduação em
Educação Física não dá conta de desenvolver as competências próprias para o
desenvolvimento desta função.
O que defendemos aqui está relacionado com
uma concepção pedagógica segundo a qual a matriz curricular deve ser concebida
a partir das dimensões dos conteúdos – dimensão conceitual, dimensão
procedimental e dimensão atitudinal – e com a valorização das metodologias
ativas de aprendizagem. Se considerarmos que a atividade de gestão está
relacionada com diagnosticar cenários, selecionar informações, enfrentar
desafios, resolver problemas e tomar decisões, o desenvolvimento e/ou
aprimoramento destas competências só pode se dar em um ambiente estimulante e
bem diferente da maioria das salas de aulas que conhecemos.
Em síntese, o que queremos advogar é que pensar
a formação inicial para a intervenção no contexto da gestão é ter clareza de
que não é no seio de uma disciplina que vamos encontrar as condições para o
desenvolvimento inicial das competências necessárias para a função. No entanto,
nem tudo está perdido e podemos considerar que existe uma saída se houver
disponibilidade para a mudança. Mas, nesse caso, a mudança não se refere ao
projeto pedagógico ou à matriz disciplinar e, sim, ao comportamento dos
universitários.
Desta forma, aqui segue a segunda certeza: o
desenvolvimento e/ou aprimoramento das competências para a gestão pode
acontecer quando o universitário, de forma ativa e autônoma, aproveita e se
envolve nas atividades da graduação. Ao se relacionar com pessoas, ao
desenvolver processos, ao definir prazo e ao atingir as metas, o universitário
estará sendo convidado a abandonar o papel de coadjuvante no processo de
profissionalização.
Ainda que não seja nossa intenção esgotar o
assunto, para efeito de exemplo, podemos considerar o Quadro 1 como referencia
sobre a relação entre as competências exigidas para atuar na gestão e as
experiências que o universitário pode aproveitar na graduação para
desenvolvê-las ou aprimorá-las.
Quadro
1 -
Relação entre competências para a gestão e experiências na formação inicial.
Competências para
Gestão em Educação Física e Esporte
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Experiências na Formação Inicial
(quando...)
|
1.
Comunicação (ideias, decisões)
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* falamos em sala de aula
* apresentamos um seminário
* participamos de reuniões
* escrevemos trabalhos
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2. Liderança
(pessoas)
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* trabalhamos em grupo
* participamos de equipes esportivas ou grupos culturais
* assumimos desafios
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3. Negociação
(prazos, entregas, ideias)
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* ouvimos os colegas
* argumentamos com os outros
* consideramos ideias diferentes
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4. Planejamento
(eventos, serviços)
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* nos envolvemos na organização de eventos
* estagiamos em projetos de extensão
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5. Análise
(cenários,
conjunturas)
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* estudamos para qualquer disciplina
* conectamos conteúdos diferentes
* observamos o entorno
* pesquisamos um assunto
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6. Controle
(tempo, gastos)
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* entregamos os trabalhos na data
* usamos os recursos de forma eficiente
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7. Decisão
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* atuamos para atingir metas acadêmicas
* escolhemos o que fazer da nossa carreira
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Como podemos observar, desde os primeiros
meses da formação inicial é possível desenvolver e ampliar competências para a
gestão. E, ainda que, não tenhamos afinidade com a função de gestor ou gestora,
a vida profissional poderá nos fazer esse convite e precisamos estar
preparados. E só estará preparado aquele que adotar um comportamento de eterno
aprendiz.