Poderíamos afirmar que até a década de 1980 a intervenção típica do profissional de Educação Física girava em torno do planejamento de atividades e do desenvolvimento de programas de Educação Física e Esporte no âmbito escolar e não escolar. Em outras palavras: guardadas as devidas exceções, o profissional de Educação Física respondia por planejar aulas ou treinamentos (ou seja, diagnosticar necessidades e possibilidades, definir objetivos, selecionar conteúdos, escolher estratégias e avaliar a aprendizagem e/ou rendimento).
Na exata medida em que as atividades da Educação Física e do Esporte tornam-se um negócio, notadamente ligado à indústria do entretenimento ou da saúde (e porque não dizer, da Educação) surge a necessidade de organizar, de otimizar, de aprimorar a venda ou o oferecimento destas atividades.
Em uma fase inicial, dada a urgência da nova realidade, os profissionais “com algum jeito para a gestão” assumiram a função aprendendo através da tentativa e erro e no dia-a-dia de trabalho. Com a velocidade das transformações e com a concorrência, fatores inerentes ao mundo dos negócios, tornou-se imperiosa a formação de quadros para realizar com eficiência e eficácia as tarefas de gestão. Entre elas, podemos nominar: gestão dos processos, gestão de pessoas, gestão financeira, gestão da marca, gestão do conhecimento, etc.
A gestão dos processos está relacionada com a articulação das etapas do negócio e a gestão financeira, com a receita e os gastos. A gestão da marca diz respeito à imagem que se quer ter sobre o negócio e qual o significado dela para os clientes. Essas tarefas, salvo melhor juízo, não são de exclusividade dos profissionais de Educação Física e podem ser realizadas por profissionais da Administração, da Contabilidade, do Marketing. No entanto, nos parece que é na gestão de pessoas e na gestão do conhecimento que o profissional de Educação Física tem um papel primordial a desempenhar e por uma razão muito simples: as “pessoas” são profissionais de Educação Física e o “conhecimento” produzido é sobre os serviços da área.
A gestão de pessoas envolve, entre outros aspectos, o recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento da equipe de trabalho. Mocsányi e Bastos (2005) reconhecem que, embora esses aspectos sejam fundamentais para que os serviços sejam realizados com qualidade e, claro, para a sustentabilidade do negócio, as instituições que prestam serviços na área não possuem um profissional de Educação Física, que seja o gestor, com competência para realizar essas tarefas.
Outro aspecto importante relacionado com a gestão de pessoas é aquele conhecido como gestão da carreira. Sobre esse aspecto, Verenguer (2010) advoga que o profissional deve estabelecer com a empresa uma relação de parceria na qual ele define metas de aprimoramento profissional e a empresa proporciona experiência e oportunidades para esse aprimoramento.
A gestão do conhecimento está relacionada com os aspectos de inovação. Assim, considerando que, de tempos em tempos, é preciso criar novos serviços e produtos, é preciso criar um ambiente no qual os profissionais de Educação Física de uma instituição troquem ideias sobre seu trabalho e sobre o que pode ser criado (VERENGUER, 2011). Cabe ao gestor, profissional de Educação Física, a criação deste ambiente. Naturalmente, ainda que os cursos de graduação em Educação Física contemplem, em suas matrizes curriculares, disciplinas que abordem conteúdos relacionados à gestão, é inegável que as mesmas não podem aprofundá-los e a formação continuada, seja em programas de pós-graduação lato-sensu ou strictu-sensu ou em cursos livres, se torna condição necessária.
No entanto, Bastos et al. (2005, p. 20) acreditam que dadas as atuais e futuras oportunidades evidencia-se:
a necessidade de aperfeiçoamento das
disciplinas de formação na área desde o curso de graduação em Educação Física e
Esporte. Revela-se a necessidade de apresentar ao formando uma real
possibilidade de atuação na área, direcionar os conteúdos e práticas das
disciplinas para prepará-lo para se inserir neste mercado.
Acreditamos,
como não poderia deixar de ser, que o aperfeiçoamento dos conteúdos e das
disciplinas que tratam dos assuntos relativos à gestão em Educação Física seja
crucial para criar um ambiente estimulante e mobilizador e que venha, então,
inspirar os graduandos a se dedicarem a essa função. Mas, considerando a
formação inicial, podemos pensar estrategicamente e tornar todo o período da
graduação um espaço para o desenvolvimento das competências próprias para a
gestão em Educação Física.